domingo, 10 de abril de 2011

Chacina no Rio de Janeiro


Chacina no Rio coloca pais e professores diante do desafio de abordar o tema com as crianças

Especialistas ensinam como explicar para os pequenos a tragédia ocorrida na escola carioca

Itamar Melo | itamar.melo@zerohora.com.br
A morte de 12 crianças em um colégio do Rio de Janeiro colocou milhões de estudantes brasileiros diante de imagens perturbadoras. O abalo emocional coloca os pais e professores diante do desafio de saber como abordar o inabordável.

A aula de história da manhã de ontem na 7ª série da Escola Municipal Pedro Vicente, em Viamão, deveria ser sobre a Renascença. O massacre cometido na véspera na Escola Tasso da Silveira, no Rio, mudou os planos do professor Robledo Costa.

Ele concluiu que o assunto se impunha e muniu-se de recortes sobre o ataque com 12 mortes. Quando entrou na sala, descobriu que não precisava ter levado nada. Os alunos só falavam na chacina. Costa posicionou a turma em círculo e dedicou a aula inteira à tragédia.

— O Renascimento pode ser tratado em outro momento. O caso do Rio precisa ser tratado agora, quando está preocupando as crianças — contou o professor.

Como na escola da periferia de Viamão, a carnificina cometida na quinta-feira por Wellington Moreira Menezes de Oliveira, 23 anos, percorreu os pensamentos e as conversas de milhões de crianças ontem.

Era inevitável. Pela TV, pela internet ou até mesmo pela conversa entreouvida dos adultos, elas foram expostas a fatos e imagens perturbadores, capazes de gerar abalo e difíceis de compreender. A situação colocou pais e educadores diante de um problema: como explicar o que foge a toda racionalidade?

Psicóloga do Colégio Farroupilha, de Porto Alegre, Luciane Valls reconhece que se trata de um desafio. Por ser uma situação pesada e complexa, que os próprios adultos têm dificuldade de elaborar, exige sintonia fina na abordagem.

Ao mesmo tempo em que é preciso mostrar à criança que se trata de um caso único e isolado, como forma de tranquilizá-la, o pai ou professor não pode dar-lhe uma falsa sensação de segurança e garantir que nunca vai acontecer de novo.


Como pais e professores devem abordar com as crianças o tema do massacre no Rio de Janeiro:

QUANDO NÃO FALAR

— Se a criança não mencionou o ataque nem se mostrou abalada por ele, o que é comum entre as menores, não é indicado que pais e professores abordem o tema, para não transmitir uma angústia que é sua.

QUANDO FALAR

— O adequado é esperar que a criança pergunte. Se ela abordar o assunto, significa que foi tocada por ele e que pode estar vulnerável. Também é importante ficar atento a sinais. Caso o menino ou a menina se mostre introspectivo ou com medos depois de ver cenas do Rio, é importante perguntar o que ele compreendeu e buscar esclarecer as dúvidas.

A IMPORTÂNCIA DE OUVIR

— Um atitude muito importante, no caso de o assunto surgir da criança, é dar espaço para que ela fale. É preciso haver abertura para ela dar vazão ao que está sentindo. Se o adulto desviar do assunto, pode acontecer de a angústia permanecer dentro da criança, virando um medo mais permanente.

A MENSAGEM A PASSAR

— O adulto não deve negar o que houve. Deve reconhecer que aconteceu uma tragédia terrível, mas com o cuidado de colocá—la em perspectiva: lembrar que é a primeira vez que um caso do tipo acontece no país e que não é algo que vá se repetir com frequência. Com isso, pode—se passar segurança à criança.

— Ao mesmo tempo, não deve afirmar que nunca vai acontecer de novo, apenas para tranquilizar o filho. Porque, se houver outro episódio, a criança poderá perder a confiança nele.

COM QUE PROFUNDIDADE FALAR DO ASSUNTO

— Aquilo que o adulto vai dizer depende do grau de compreensão da criança e do que ela perguntar. Crianças menores, de quatro ou cinco anos, terão uma explicação bem diferente daquela destinada a um adolescente, ao qual se podem apresentar detalhes e informações complexas. Uma regra boa é limitar—se a responder o que é perguntado. Às vezes o adulto fala mais do que o necessário para aplacar a curiosidade da criança, criando uma ansiedade desnecessária.

CONTER O PRÓPRIO NERVOSISMO

— Pais nervosos na frente da escola ou vidrados nas imagens da TV, falando apenas no ataque, podem passar à criança uma ansiedade que ela originalmente não tinha. Antes de tranquilizar a criança, o adulto deve tranquilizar a si mesmo.

QUANTO FILTRAR

— Em uma situação como a ocorrida na escola carioca, todos ficam submetidos a um bombardeio de imagens e informações impactantes. Ainda que seja quase impossível, a partir de uma certa idade, impedir o contato da criança com esses fatos, deve—se limitá—lo, reduzindo a exposição dela ao noticiário.

* Fonte: Fontes: Fabiani Ortiz Portella, conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Luciane Valls, psicóloga do Colégio Farroupilha, Daniela Dal—Bó Noschang, psicóloga e consultora de escolas infantis

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